COVID-19: o doutor «mãos limpas»
O álcool em gel é um produto muito procurado hoje em dia. Foi desenvolvido pelo Dr. Didier Pittet, especialista em doenças infecciosas e diretor do Programa de Controle de Infecções dos Hospitais Universitários de Genebra (HUG). Pioneiro em higiene hospitalar, o Dr. Pittet desenvolveu, junto com o farmacêutico William Griffiths, uma solução revolucionária para desinfetar as mãos em ambientes médicos. A prática de esfregar as mãos com este produto tem sido adotada no mundo inteiro, salvando 8 milhões de vidas por ano.
Nada, nos primeiros anos da vida de formação do Dr. Pittet, parecia indicar que algum dia ele seguiria a carreira de medicina. Nascido em Genebra, em 1957, e criado na fé cristã, bem poderia ter escolhido o caminho da igreja. Porém, deixou de lado a ideia da batina e decidiu vestir um guarda-pó branco. Durante seus anos de adolescência, já se havia aproximado do médico da família. Mais tarde, este seria seu mentor, quem o encorajou a escolher outra vocação: não a de salvar almas, mas sim a de curar doentes.
Atualmente, o Dr. Pittet é diretor do Programa de Controle de Infecções do Centro de Colaboração da OMS dos HUG. É co-autor de mais de 500 publicações científicas, havendo recebido vários prêmios nacionais e internacionais por seu trabalho. Em 1998, foi reconhecido como um dos cinco cientistas mais influentes do mundo. Ensinou em algumas das instituições médicas mais renomadas do planeta.
Dr. Mãos Limpas
O Dr. Pittet contribuiu mais do que ninguém para popularizar o slogan "Mãos limpas salvam vidas", durante a eclosão da pandemia H1N1 de 2009, conhecida também como Gripe A. Ele demonstrou que desinfetar as mãos com gel alcoólico – cuja fórmula química foi desenvolvida pelo farmacêutico William Griffiths – é mais efetivo do que lavá-las com sabão. Este descobrimento científico, possibilitando uma adequada higienização das mãos em países com escasso acesso à água potável, é conhecido no campo médico como o "modelo Genebra". É um princípio bem simples: consiste em manter, em qualquer momento, álcool em gel ao alcance do pessoal médico nos quartos dos internados e nos corredores do hospital de tal modo que possam desinfetar as mãos durante e depois do contato com os pacientes. Eles podem até mesmo levar pequenos frascos de gel alcoólico dentro do bolso de seus guarda-pós brancos.
O método tradicional de lavagem de mãos requer se dirigir à pia do banheiro, lavar com cuidado, enxaguar e secar as mãos. É um procedimento mais demorado, dificultando a tarefa do pessoal médico que precisa lavar as mãos várias vezes em uma hora. Manter as mãos sem germes com álcool em gel não é apenas mais rápido (leva uns 20 segundos) e mais conveniente do que lavá-las com sabão, possui também outra vantagem: reduz as infecções intra-hospitalares.
O Dr. Pittet apresentou este método de combate às doenças ligadas aos serviços de saúde – que afeta cerca de 70.000 pessoas na Suíça por ano – no HUG na década de noventa em colaboração com a Organização Mundial da Saúde. Calcula-se que hoje em dia salva 8 milhões de vidas por ano no mundo inteiro. Por seus serviços em prol da prevenção de doenças intra-hospitalares no Reino Unido, o Dr. Pittet recebeu o título de Commander of the Order of the British Empire concedido pela Rainha Elizabeth II – a mais elevada ordem que um cidadão não britânico pode chegar a receber. Há mais de 400 anos que a coroa britânica não entregava este título a um cidadão suíço.
O presente de poder dar
O dinheiro é um recurso limitado, mas não as pessoas dispostas a ajudar os demais.
Convencer a comunidade científica e médica sobre a importância de utilizar álcool em gel não foi uma tarefa fácil. O Dr. Pittet enfrentou muita resistência. Ele lembra que o mais difícil não foi impor o uso do gel, mas fazer com que as pessoas pudessem internalizar o hábito de manter as mãos livres de germes. 2005 foi um ano decisivo. O Dr. Pittet foi o encarregado pela OMS de fazer o lançamento do programa 'Clean Care is Safer Care'. A campanha dirigida à proteção dos pacientes foi o impulso global que contribuiu para promover e garantir uma correta higienização de mãos com este tipo de solução.
A campanha do Dr. Pittet o levou a se confrontar com os interesses das companhias farmacêuticas, resistentes ao seu pedido de produzir álcool em gel a preços acessíveis. Ele sempre esteve mais interessado nos resultados da saúde pública do que nos ganhos e, por isso, não obteve nem um centavo pelo produto que ajudou a desenvolver. Cedeu todos os direitos de propriedade intelectual e transferiu a fórmula química para a OMS "de tal forma que possa ser produzido até mesmo em uma cozinha". Sua única recompensa foi conseguir que a fórmula estivesse disponível de maneira gratuita.
As honrarias não podem ser compradas: elas são obtidas quando damos o melhor de nós mesmos.
Baseado no artigo de Dejan Nikolic, publicado em abril de 2014 no jornal suíço Le Temps (em francês).